YOGA GLOBAL: DE CORPO E ALMA

YOGA GLOBAL: DE CORPO E ALMA

Em "O coração do yoga", o mestre T.K.V. Desikashar fala sobre a importância de vivenciar a sabedoria yogue, literalmente, de corpo e alma. Que tal inspirar-se com um trechinho desta obra?

 

Texto • Redação

Quando O coração do yoga foi lançado, o jornal Sunday Times, de Londres, escreveu: "Leia este livro e você entenderá, de fato, o yoga". Parece exagero, mas não é. A obra, que reúne um apanhado de estudos essenciais sobre posturas, respiração, meditação, filosofia e textos clássicos organizados por T.K.V. Desikachar (filho e aluno de Sri Krishnamacharya, o mais renomado mestre yogue dos tempos modernos), é uma das mais importantes referências entre professores e praticantes de yoga da atualidade. A seguir, você confere um trecho da publicação, em que Desikachar convida o leitor a entrar em contato com os fundamentos teóricos da milenar sabedoria indiana e experimentá-la em sua totalidade.
 

O coração do yoga

Quando começamos a estudar yoga – quer seja pelos asanas, pranayama, meditação ou estudando o Yoga Sutra – a maneira como aprendemos é a mesma. Quanto mais progredimos, mais ficamos conscientes da nossa natureza holística, percebendo que somos feitos de corpo, respiração, mente e mais. Muitas pessoas começam a estudar yoga pela prática de asanas e só continuam aprendendo mais posturas, até que o único significado de yoga para elas seja exercício físico. Nós podemos comparar isso a um homem que cultua músculos de um só braço e deixa o outro fraco.

De forma semelhante, há pessoas que intelectualizam a ideia do yoga; escrevem livros maravilhosos e falam brilhantemente sobre ideias complicadas como prakrti e atman, mas enquanto estão escrevendo ou discursando não conseguem se sentar eretas nem por poucos minutos. Então, não vamos esquecer, podemos começar no yoga partindo de qual quer ponto, mas, se devemos ser seres humanos completos, precisamos incorporar todos os aspectos de nós mesmos, e fazer isso passo a passo. No Yoga Sutra, Patanjali enfatiza todos os aspectos da vida humana, incluindo nossos relacionamentos com os outros, nosso comportamento, nossa saúde, nossa respiração e nosso caminho para a meditação.

 

 

Percepção e ação

Para explicar o yoga, vou me referir às ideias expressas no Yoga Sutra de Patanjali, o meu guia para a prática de yoga preferido. (...) Um conceito importante do Yoga Sutra de Patanjali tem a ver com o jeito como percebemos as coisas, e explica por que esta mos sempre entrando em dificuldades na vida. Se soubermos como cria mos esses problemas, pode mos também aprender como nos libertar deles.

Como a nossa percepção funciona? Com frequência nós decidimos que vimos uma situação “corretamente” e agimos de acordo com essa percepção. Na realidade, entre tanto, nós nos iludimos, e nossas ações podem, por causa disso, trazer infortúnio para nós mesmos e para os outros. Tão difícil quanto isso é a situação em que duvidamos da nossa compreensão sobre algo, quando na verdade ela está correta. Por causa da dúvida, não toma mos atitude alguma, mesmo que fazê-lo fosse muito benéfico.

O Yoga Sutra usa o termo avidya para descrever esses dois fins do espectro da experiência. Avidya, literalmente, significa “compreensão incorreta”: descreve uma falsa percepção ou incompreensão. Avidya confunde o grosseiro com o sutil. O oposto de avidya é vidya, “compreensão correta”.

Mas o que é essa avidya, que está tão profundamente enraizada na gente? Avidya pode ser entendida como o resultado acumulado das nossas muitas ações inconscientes, as ações e modos de percepção que carregamos mecanicamente por anos. Como resultado dessas respostas inconscientes, a mente torna-se mais e mais dependente de hábitos, até que aceitamos as ações de ontem como as normas de hoje. Esse hábito na nossa ação e percepção é chamado de samskara. E tais hábitos cobrem a mente com avidya, como se obscureces sem a clareza da consciência com uma fina camada, assim como uma névoa.

Se estivermos certos de que não entendemos claramente uma determinada situação em termos gerais, não agiremos decididamente. Mas se nosso entendimento for claro, agiremos e isso será bom para nós. Tal ação origina-se de um nível profundo de percepção. Em contraste, avidya distingue-se pela percepção superficial. Eu acho que enxergo algo corretamente, então tomo uma atitude e depois tenho de admitir que estava enganado e que minhas ações não se provaram benéficas.

Assim, temos dois níveis de percepção: um é profundo, interno e livre dessa névoa de avidya, o outro é superficial e obscurecido pela avidya. Do mesmo jeito que nossos olhos devem ser transparentes e claros para ver cada cor com exatidão, nossa percepção deve ser como um espelho de cristal. O objetivo do yoga é reduzir a névoa de avidya para que possamos agir corretamente.

Fonte: Triada.com.br