YOGA E MEDITAÇÃO DE MÃOS DADAS

YOGA E MEDITAÇÃO DE MÃOS DADAS

Saiba de uma coisa: você não vai meditar na primeira vez em que praticar yoga. Provavelmente, nem na segunda ou na terceira. A má notícia é que a meditação não é um estágio fácil de ser atingido. A boa é que alcançá-lo é possível e só depende de você

 

Texto • Denise Moraes
 


 

Nos últimos anos, o yoga virou moda no Ocidente. É verdade que muitos se interessaram pela filosofia entusiasmados com a possibilidade de conquistar um corpo bonito. Mas também é fato que grande parte desse público logo percebeu que o yoga tem muito mais a oferecer. De uns tempos para cá, mais e mais pessoas passaram a recorrer à prática yogue como forma de aprimorar-se mentalmente.

“Quem vai fazer yoga quer mais do que um corpo bonito. Quer um físico saudável associado a uma mente serena, ao bem-estar e ao autoconhecimento”, diz o professor de yoga Anderson Allegro, diretor do Espaço Aruna Yoga, em São Paulo.

Só que... não é qualquer aulinha de yoga uma vez por semana que vai fazer você meditar. Em geral, a meditação verdadeira é um estágio atingido apenas pelos yogues mais dedicados. “Um yogue é aquele que pratica há um longo tempo. Mais do que isso, é alguém que conseguiu atingir, por meio da prática, um estado de consciência profundo, que lhe possibilita não só olhar para o mundo com absoluta clareza, mas também olhar para o seu próprio interior com serenidade, harmonia, plenitude e paz espiritual”, explica Claudio Duarte, presidente da Associação Brasileira de Yoga.

Ou seja: uma pessoa pode até praticar yoga a vida inteira e nunca meditar, pois a meditação apenas ocorre quando existe o equilíbrio entre a mente, o corpo e o espírito. Você pode estar pensando: se é tão difícil assim, será que vale a pena? Os especialistas apontam que o caminho é praticar o yoga com dedicação e persistência. “Com o tempo, o praticante se reequilibra e abandona seus vícios, ansiedades, inseguranças, medos interiores e bloqueios. Então, atinge um estado preliminar de plenitude que lhe traz tanta alegria, saúde e prazer, que já não precisa mais de artifícios ou vícios externos para se iludir”, explica Duarte.

Segundo Etienne Janiake Bartulihe, professora do Espaço Rasa, em São Paulo, o yoga proporciona o fim das atribulações mentais de forma progressiva, o que leva à meditação. “A prática de yoga deve ser encarada como uma meditação em movimento. O objetivo é conseguir, durante a prática, aprofundar-se cada vez mais no estado meditativo”, explica. 

Oito etapas rumo ao êxtase


 

Segundo os Yoga Sutras (um texto milenar escrito pelo sábio indiano Patanjali), o indivíduo que ingressa na filosofia yogue deve passar por oito fases até atingir o mais profundo autoconhecimento – o objetivo maior do yoga. É claro que chegar à reta final é conquista de poucos. Mas, que tal tentar?
 

Yamas ou restrições – falar a verdade, não roubar, não praticar a violência, praticar o desapego, não desvirtuar a sexualidade.

Niyamas ou observâncias – purificação, contentamento, austeridade, autoconhecimento, estudo dos textos sagrados e rendição a Deus.

Asanas ou técnicas psicofísicas – são as posturas físicas do yoga.

Pranayamas ou técnicas respiratórias sutis – controlam a energia vital por meio da respiração.

Pratyahara ou introspecção dos sentidos – acalmam os pensamentos e preparam a mente para a meditação.

Dharana ou concentração absoluta – concentrar e manter a mente em um único pensamento.

Dhyana ou meditação pura – sensação atingida com a paz e a plenitude. A vida passa a fazer mais sentido e tudo o que antes era visto como problema torna-se extremamente simples.

Samadhi ou êxtase – resultado final de todo esse longo e profundo processo.
 

Os yogues dizem que quanto maior for o tempo dedicado às duas primeiras etapas (yamas e niyamas), maior será a chance de se atingir a meditação com sucesso. As etapas iniciais pregam apenas cinco ações cada uma, mas ainda assim é difícil realizá-las plenamente. Não basta o praticante se esforçar para agir de acordo com os dois preceitos – a transformação deve ser plena a ponto de ele não ter dificuldade em segui-los.

 

Das dez ações englobadas nos yamas e niyamas, talvez a mais difícil seja a autoanálise. Essa ação inclui passar a limpo aspectos, às vezes dolorosos, de sua vida e de sua personalidade, coisas que ficaram enterradas há tempos e geraram traumas e manias que fazem parte de seu jeito de ser hoje. Essas emoções serão novamente mexidas e, não tenha a menor dúvida, a sensação não é nada boa. Contudo, é a única forma de se libertar dos medos e temores que criam um problema atrás do outro. “O autoconhecimento nos auxilia a lidar melhor com nossos conflitos pessoais e gera uma disposição interior para a aceitação de si mesmo e das circunstâncias que a vida apresenta”, diz Anderson Allegro. 

 

É disso que você precisa?

“Por que eu quero meditar?” Antes de qualquer coisa, você deve se fazer essa pergunta. A meditação, assim como o yoga, traz diversos benefícios, mas apenas você sabe do que precisa. Enquanto na Índia yoga e meditação se confundem, no Ocidente tem-se a impressão de que algumas práticas de yoga não exigem a meditação. Na verdade, a meditação ocorre em todas as práticas, em menor ou maior grau, priorizando um fim ou outro.

O fato é que o tipo de yoga que mudou a vida daquela sua amiga pode não fazer diferença nenhuma na sua, porque nenhuma pessoa é igual à outra. Com certeza, há uma modalidade de yoga que combina com você – e ninguém poderá descobri-la a não ser você mesma!

Pesquisas são válidas, pois conhecendo os vários ramos e adaptações do yoga, você terá embasamento para saber qual é o mais adequado. Um bom professor também é fundamental. Ele deve orientá-la sempre com muita ética e bom senso, respeitando suas condições. Desconfie daquele professor que diz que meditar é fácil e também daquele que já chega passando uma dieta para você seguir. O bom professor é aquele que não interfere na vida do aluno, mas sim o orienta com muito respeito e sinceridade.

De todos os fatores citados, não se esqueça de que o mais importante será sua determinação. Atingir a meditação não consiste em olhar algum tempo para um ponto fixo e falar ‘pronto, meditei!’. A meditação só é possível quando não há mais inquietação na mente. Só assim é possível atingir esse estágio.

Não queira pular etapas, não tenha pressa. Cada etapa do yoga é imensamente prazerosa e tem muito a ensinar. Cabe apenas a você querer aprender.

 Fonte: Triada.com.br