VOCÊ E SEU CÉREBRO DE BOM HUMOR
Mais do que um estado de espírito, o bem-estar é também uma consequência da estimulação adequada do sistema nervoso. Entenda agora como acontece esse processo e anote dicas práticas e cientificamente comprovadas para impulsioná-lo
Texto • Geisa D’avo
Uns preferem ler, outros viajar, e outros gostam mesmo é de conversar. Seja como for, o fato é que cada um de nós tem suas próprias fontes de prazer. Mas, por mais individuais que sejam nossas preferências, o bem-estar proporcionado por essas atividades é comum a todos nós. Ou seja: se você não vive sem cozinhar, enquanto sua mãe adora assistir televisão, essas diferentes tarefas desencadeiam um mesmo processo químico e biológico no cérebro de ambos e, então, trazem o mesmo tipo de prazer.
Para entender melhor como isso acontece, basta lembrar das aulas de biologia do colégio. Na escola, aprendemos que no cérebro há um complexo circuito de comunicação formado por cerca de 86 bilhões de neurônios. Estas células ficam separadas por microfendas e, por isso, precisam da ajuda dos neurotransmissores para conectarem-se umas âs outras e reagirem aos estímulos. E cada neurotransmissor produzido e liberado no cérebro desempenha uma função diferente.
Isso significa que, quando você se sente alegre, disposto, tranquilo ou relaxado, alguns neurotransmissores relacionados a essas emoções estão sendo liberados no seu sistema nervoso – principalmente no sistema límbico, uma região do cérebro que atua como “gerenciadora das emoções”.
Evidentemente, o sistema límbico não é o único responsável pela sensação de bem-estar, como explica Geraldo Possendoro, psiquiatra e professor de Medicina Comportamental da Unifesp. “Se não houver um conjunto de fatores internos e externos capaz de promover a alegria, nenhuma substância produzirá a sensação por si só. Por outro lado, quando esses aspectos resultam num humor mais positivo, podemos inferir que existe, naquela pessoa, uma liberação adequada de alguns neurotransmissores como a serotonina, a dopamina, a endorfina e GABA”.
De acordo com o psiquiatra, quando alguém se sente mais extrovertido num momento de contato social, por exemplo, é provável que uma quantidade adequada de serotonina esteja sendo liberada em seu cérebro. A sensação de relaxamento, em geral, está associada ao neurotransmissor GABA, enquanto a euforia tem ligação direta com a endorfina. Já a dopamina estará presente nas situações que proporcionam qualquer tipo de prazer.
Agora que você já entendeu melhor como funcionam os neurotransmissores do bem-estar, que tal descobrir o que fazer para liberá-los constantemente? Conheça, a seguir, algumas formas de ativar essas substâncias e deixar o seu cérebro sempre bem-humorado.
Cardápio do bom humor
Manter uma dieta equilibrada e variada é decisivo para quem quer manter o alto-astral. Além do famoso chocolate, alguns alimentos como, peixes, carnes, leite, ovos, pães e leguminosas, são fontes de triptofano e tirosina, aminoácidos essenciais à produção de serotonina e de noradrenalina, respectivamente.
Isso sem contar o grupo dos tão temidos (e celebrados) carboidratos que colabora mdiretamente com o bom humor, já que atuam como precursores da síntese de serotonina.
E a lista não para por aí. “Entre outros alimentos, as frutas, verduras e legumes são fontes de potássio, mineral que ajuda a dar mais disposição ao organismo. Nos peixes, principalmente nos provenientes de águas frias (como o salmão, o atum e a sardinha), está presente o ômega 3, uma gordura essencial à modulação do humor. Já a carne vermelha é fonte de vitamina B12, uma vitamina cuja carência, segundo estudos, muitas vezes acompanha quadros de depressão”, afirma Eneida Ramos, especialista em Nutrição Clínica e nutricionista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dica!
Quer apostar em uma dieta capaz de lhe render bons sorrisos? Então, confira o cardápio abaixo, elaborado pela nutricionista Eneida Ramos. E lembre-se: o ideal é se alimentar a cada três horas!
CAFÉ DA MANHÃ
1 mamão papaia
1 iogurte desnatado
1 pão integral com margarina
LANCHE DA MANHÃ
1 banana
ALMOÇO
Salada de alface com tomate à vontade
1 filé de frango grelhado
1 porção de arroz integral
1 porção de feijão
1 pedaço de abacaxi (sobremesa)
Limonada
LANCHE DA TARDE
1 iogurte desnatado
1 maçã
JANTAR
1 porção de sopa de legumes
1 filé de peixe grelhado
1 porção de macarrão com brócolis
1 laranja (sobremesa)
LANCHE DA NOITE
1 copo de leite desnatado ou de chá
Corrida pelo prazer
Que a prática de esportes libera endorfina todo mundo sabe. Mas, afinal, o que isso significa? “Esse neurotransmissor tem uma estrutura similar ao ópio (entorpecente de ação analgésica, usado na produção de morfina e heroína por exemplo), mas sem o perigo de causar prejuízos à saúde. Isso basta pra concluir que a sensação de bem-estar proporcionada pela endorfina é incrível“, explica Possendoro.
Outros neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, também são liberados com a prática esportiva e promovem benefícios que vão além do aspecto físico, de acordo com João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. “A medida em que libera esses neurotransmissores, a pessoa se sente mais bonita, mais bem disposta e mais aberta para as relações sociais. Tudo isso é também um benefício direto da prática esportiva”.
Dica!
Para estimular a liberação dessas bem-vindas substâncias a partir da prática esportiva, o ideal é investir em atividades aeróbicas. Por isso, pratique corrida ou caminhada por cerca de 45 minutos, ao menos três vezes por semana. Esportes como futebol, tênis e basquete também são uma boa pedida.
A química da paixão
Se você já se apaixonou, sabe bem como esse sentimento chega a ser quase indescritível. Mas, para a ciência, já é possível explicá-lo detalhadamente – pelo menos do ponto de vista biológico –, como conta Edna Bertini, especialista em medicina comportamental e professora da PUC-SP.
“Quando nos apaixonamos, ficamos sob o comando do sistema límbico, que é o gerenciador das nossas emoções, e onde há grande concentração de dopamina, endorfina e noradrenalina. É por isso que, ao sentir paixão, todo mundo fica mais sensível. A liberação desses neurotransmissores faz com que você dê mais vazão às emoções”.
Fonte: Triada.com.br