OSHO, UM MESTRE POLÊMICO

OSHO, UM MESTRE POLÊMICO

Ele negava as religiões, a sociedade, o Estado e defendia o amor livre e a liberdade de agir. Polêmico, ficou conhecido como o guru do sexo. Saiba mais sobre esse indiano que tornou-se um dos líderes espirituais mais influentes do século 20

 

Texto • Sandra Cruz

“Por que não apenas simplesmente ser? Por que desnecessariamente correr para cá e para lá? Você é o que a existência quer que você seja.
Então relaxe.”

Foi com um discurso simples e provocador que Osho fascinou multidões e conquistou discípulos no mundo inteiro. Com voz mansa, muitas vezes carregada de ironia, Osho questionava as instituições e criticava a aceitação pacífica de todos os padrões estabelecidos pela sociedade. Era radicalmente contra a limitação que a família, a Igreja e o Estado impunham às pessoas e defendia que o homem deveria deixar para trás ideias preconcebidas, que criam bloqueios, para passar a pensar e viver conforme suas próprias percepções e experiências individuais.

Não bastasse a ousadia de tocar em assuntos tão sensíveis, ele criou polêmica ao divulgar o tantra yoga, a prática milenar que defende a sexualidade como uma força poderosa para se alcançar o crescimento espiritual. Osho dizia sem pudores que o sexo era uma forma de se chegar a Deus. Um dos mais ousados mestres espirituais de todos os tempos, levantou ideias que nenhum outro guru jamais pensou em abraçar. Para dizer o mínimo, é uma figura que vale a conhecer.
 

Doce rebelde

Filho mais velho de um mercador de tecidos, Osho nasceu Rajneesh Chandra Mohan em 11 de dezembro de 1931, na pequena vila indiana de Kuchwada, no estado de Madhya Pradesh.

Até os sete anos,  foi criado pelos avós, em um ambiente de total liberdade de expressão, mas muito respeito. Osho dizia que essa fase teve um papel crucial em sua formação e lembrava com orgulho que, quando criança, sempre pôde fazer o que bem queria, sem interferência de ninguém.

Essa criação desregrada deu origem a uma personalidade anárquica, rebelde e contestadora. Quando cresceu, o garoto passou a questionar as leis e os padrões de comportamento do mundo à sua volta e rebelou-se sobretudo contra as regras impostas pela vida em sociedade. Decidiu, então, encontrar por si só a verdade da vida, descartando a imposição de qualquer dogma, fosse ele religioso, social ou político. A iluminação viria mais tarde, aos 21 anos de idade.

Graduado em filosofia, Osho foi professor na Universidade de Jabalpur por nove anos. Chegou uma hora, porém, em que sua ânsia por crescimento espiritual falou mais alto. Foi quando ele abandonou a carreira acadêmica para dedicar-se a esses temas. Viajou por todo o país e participou de debates públicos que chocavam a todos.

Àquela altura, o jovem indiano já contava com uma pequena legião de seguidores, os chamados sannyasins. Não demorou para passar a ser chamado de Bhagwan Shree Rajneesh, que em uma tradução livre significa “Deus abençoado”.

Tempos depois se tornaria Osho, nome que na tradição zen significa mestre espiritual. Segundo ele, sua alcunha – que significa “o que se dissolve no oceano” – vinha da expressão “experiência oceânica”, criada pelo filósofo americano William James.

Com os sannyasins, Osho mudou-se para Bombaim e, em 1974, fundou na cidade de Puna seu primeiro ashram (escola espiritual). Lá, milhares de pessoas dos quatro cantos do planeta se reuniam para ouvi-lo e para vivenciar a revolucionária meditação dinâmica, criada por ele no final da década de 60. 
 

Meditação dinâmica

As práticas desenvolvidas por Osho utilizam técnicas de hiperventilação, música, dança, expressão, partindo da euforia para o silêncio, com o objetivo de romper as barreiras emocionais do praticante.

 

O mundo de Osho


 

Quando seus ensinamentos atravessaram o oceano e chegaram ao Ocidente, conquistaram milhares de adeptos, mas, em contrapartida, encontraram muitos obstáculos.

A vida do guru nos Estados Unidos foi uma das fases mais conturbadas e obscuras de sua biografia. Ele chegou às terras ianques em 1981, buscando tratamento para males na coluna. De cara, foi acolhido por simpatizantes nos arredores da cidade de Antílope, no Oregon. Deles, Osho ganhou um rancho, espaço que logo se transformou em outro grande centro de meditação.

Os 65 mil acres, que ficavam em uma área desértica, cresceram, transformando-se em  uma comuna batizada de Rajneeshpuram. Era uma verdadeira cidadela, onde existiam escolas, supermercados, correios e até posto policial. Por lá, chegaram a circular 15 mil pessoas por ano – sem contar as sete mil que viviam no local. Ia gente de todos os níveis sociais, incluindo aí multimilionários que adoravam presentear o mestre. Foi daí que surgiu a fama de “guru dos milionários”, a qual o próprio Osho nunca tentou dissolver.

Justamente nessa época, Osho parou, temporariamente, de falar. Depois de 20 anos dando palestras e fazendo discursos, o mestre indiano ingressou em uma nova fase, de absoluto silêncio. Passou três anos sem pronunciar uma única palavra. Segundo ele, isso o levaria a um grau de consciência mais pleno. Ele voltaria a falar em 1984, para pequenos grupos.

Enquanto isso, a vida em comuna fervia. Do lado de fora da vila, parte da população da cidade de Antílope exigia a expulsão de Osho e seus fiéis sannyasins do local. Faziam, inclusive, campanhas que envolviam a mídia e o governo – o que acabou por surtir efeito.

O silêncio não ajudou o guru quando o governo dos Estados Unidos se recusou a conceder a Osho o direito à residência permanente no país. Daí em diante vieram à tona escândalos envolvendo sua secretária e outros seguidores mais próximos, acusados de crimes de imigração e sonegação de impostos.

 

De guru a presidiário


 

Osho foi apontado como cúmplice dos casamentos forjados de seus discípulos estrangeiros, que o faziam para poder ficar nos Estados Unidos. Em outubro de 1985, foi preso dando início a uma verdadeira  via-crúcis. Expulso do país em novembro do mesmo ano, seguiu para a Índia, onde ficou em repouso nas montanhas do Himalaia. Antes de seguir para o Oriente, ficou dias em poder das autoridades americanas, o que gerou versões conspiratórias que especulavam a hipótese de ele ter sido envenenado por agentes da Central de Inteligência Americana (CIA) no período em que esteve detido.

Àquela altura, a comuna americana se dispersara, e Osho não conseguia se estabelecer em nenhum outro lugar. Vinte e um países fecharam suas portas para o polêmico guru. Em julho de 1986 ele finalmente conseguiu retornar para Bombaim e, em janeiro de 1987, já com a saúde bastante debilitada, voltou a morar no ashram de Puna. Lá, morreu em janeiro de 1990.

O centro espiritual de Puna funciona até hoje e recebe milhares de visitantes todos os anos. Osho se foi, mas deixou seu legado. Hoje existem centros de meditação espalhados em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde há cerca de 10 deles em plena atividade. 
 

 

Milionário exibicionista

 

Osho construiu um império: possuía imóveis, avião particular e uma polêmica frota de 90 carros Rolls Royces, segundo ele, “presentes de seguidores”. Mas, ao contrário do que se imagina, Osho desfilava sem culpa pelas ruas da comuna a bordo dos belos carros. Segundo seus discípulos, ele não ostentava a riqueza, mas também não tinha preconceitos. Defendia que é possível crescer espiritualmente em uma favela ou em um palacete. “E, se for possível a escolha,  por que não o conforto? Quem pode cuidar da espiritualidade com fome?”, questionava o guru. 

 

Pensamentos mais polêmicos


 

Amor

“Nada pode acabar com o amor. O amor é inevitável. O amor é a nossa natureza. O amor está preso dentro do homem; basta libertá-lo. A questão não é produzi-lo, mas sim descobri-lo.” Para o mestre, o amor é a transformação da energia sexual.
 

Religião

“Na comuna não existem Dez Mandamentos; nenhuma disciplina é imposta a você. Você tem que simplesmente seguir sua própria intuição.” Osho dizia que a crença é o ópio que todas as religiões dão ao povo em grandes doses. “Tento destruir este vício ao ópio. Meu maior esforço é para deixá-lo só e em paz.”
 

Sexo

Para Osho, associar sexo ao pecado e à moral é um grande erro. “O homem não pode ser separado do sexo. O sexo é seu ponto inicial. Deus fez da energia sexual o ponto de partida da criação. E os grandes homens chamam de pecaminoso o que o próprio Deus não considera pecado.”
 

Vida

Osho diz que não é preciso ter uma filosofia de vida. “A vida não é um problema para ser resolvido, mas um mistério para ser vivido. Pessoas que têm certas idéias sobre a vida perdem a oportunidade que ela dá de vivê-la.”

 

Osho para ler

Existem mais de 650 livros que levam a assinatura do guru, mas a verdade é que Osho nunca escreveu uma obra sequer. Os títulos publicados em mais de 40 idiomas são transcrições de discursos, palestras e entrevistas que o mestre indiano deu em todo mundo, ao longo de 35 anos. Não há um número oficial de vendas, mas estima-se que ele tenha vendido mais de três milhões de livros. Talvez pela origem oral, os livros mais parecem poemas que levam à reflexão. Conheça algumas de suas obras.

 Fonte: Triada.com.br