Buscar sabedoria é desafio que cativa e nos faz sentir mais intensamente ligados ao mundo. O curioso é perceber que ela está em todas as partes, nos temas mais clássicos e também naqueles menores, quase desprestigiados, esquecidos, discretos. Na minha investigação de cada dia topei por um desses abençoados acasos, com um verdadeiro manancial, uma torrente, enxurrada, furacão de força e mérito esotérico: a tradição cigana.
Esse povo, gente privilegiada, tece uma cadeia sem fim de fé, fábulas, músicas, danças, comidas, diversões, encantamentos, que transmitem uma enorme disposição e otimismo diante das tarefas da vida. São tradições profundas e enraizadas que deixam marcas em qualquer um que se aproxime. Encantam, seduzem, alegram. Cultura que, passando por muitos e muitos anos, muitas e muitas gerações, conserva seu poder e sobrevive até nossos dias.
Olhar para o mundo cigano é olhar para inteligência e mistério, aventuras cheias de realidade, interessantes momentos de vertiginoso voo da imaginação, paixões e heroísmos. À luz da fogueira, sob o luar azulado das noites amenas, banqueteando delícias, festejando, conversando, amando, eles ensinam que a riqueza das coisas pode ser tão densa, chegando a dar vontade de pedir para que o correr do tempo se detenha, afim de aproveitar melhor todas as maravilhas.
Para nós, geralmente apegados à nossa casa, nossa terra, é difícil conceber uma vida nômade, em constante movimento. Para eles é a coisa mais normal. Com seus vestidos coloridos, pingentes de ouro, violinos alegres e trepidantes castanholas, eles podem arrumar seus pertences em pouco tempo e seguir. Parece não haver paixão maior que se sobreponha a essa liberdade de viajar, descortinar horizontes, visitar paisagens.
Complementando essa paixão pelo movimento, os ciganos abraçam também, com carinho, as habilidades artísticas. No circo ou no acordeão, cantando ou fazendo lindo artesanato, atravessam o mundo contando suas histórias, lendo sortes, enchendo o universo com risos e belezas.
O romani, a língua cigana, mostra que eles são originários da Índia. Saíram de lá há mais de dez séculos e ganharam o planeta. Espalhados por quase todos os países, encontraram no Brasil um chão acolhedor. Alguns estudiosos afirmam que temos 300 mil ciganos vivendo em nosso país, outros falam em 1 milhão! O número para quem, como eu, não é demógrafa ou socióloga, importa menos. Definitivo foi ouvir, na melodiosa voz de uma simpática moça de cabelos longos, as fábulas lindamente narradas, encantadoras.
Fonte: www.terra.com.br