MEDITAÇÃO EM PENITENCIÁRIAS
Experiências apontam a meditação como alternativa eficiente para a reabilitação social de presos. É isso mesmo: a prática zen tem ajudado a manutenção da saúde física e mental e a redução da reincidência ao crime. Saiba mais
Texto • Alexandra Bailon
Pense nas condições das penitenciárias brasileiras. Agora, imagine um grupo de presos praticando meditação nesse tipo de ambiente. Parece estranho, mas os cursos de meditação mostram-se eficazes na reabilitação de presidiários em países como Índia, Tailândia, Estados Unidos e também no Brasil.
“A meditação ajuda os presos a buscarem um ponto de equilíbrio, uma estabilidade emocional e racional”, afirma Rita de Cássia Naumann, diretora do Centro de Custódia de Curitiba (CCC), no Paraná. O trabalho com yoga e meditação na CCC começou com um convênio com as Faculdades Integradas Espírita e tem grande aceitação por parte dos presos. “Os cursos foram implantados este ano, por isso ainda não temos dados estatísticos sobre seus efeitos, mas com certeza a meditação é um instrumento a mais no programa de reintegração social dos presos”, acrescenta a diretora.
Com o relaxamento proporcionado pela meditação, pode-se tratar a abstinência de drogas, a depressão, a ansiedade e a insônia, problemas comuns no cárcere. Pesquisas nacionais e internacionais comprovam que esta prática tem ajudado os presidiários a serem mais positivos, a reconhecerem a necessidade de transformação e a trabalharem para se tornarem exemplos para si mesmos, para a família e para a sociedade.
Da Índia aos Estados Unidos
Na Índia, o primeiro curso em prisões de meditação Vipassana – uma das mais antigas técnicas indianas que ensinam a eliminar os pensamentos negativos – foi conduzido por Satya Narayan Goenka, na unidade central de Jaipur, em 1975. Anos depois, em 1994, um curso de dez dias no maior presídio do país (Tihar, em Nova Délhi) ajudou a tornar aquele ambiente mais pacífico. Estudos feitos pela Universidade de Rajasthan comprovaram que os cursos Vipassana contribuíram para transformar os presos em membros produtivos para a sociedade. Por este motivo, em pouco tempo, foram instalados centros de meditação em outras dezenas de presídios da Índia.
Do outro lado do globo, nos Estados Unidos, o King County North Rehabilitation Facility (NRF), em Washington, foi o primeiro a adotar os cursos de meditação Vipassana – foram vinte cursos entre 1997 e 2002. Segundo um levantamento feito pela NRF em março de 2002, 75% dos presos que não fizeram o curso de meditação voltaram para a cadeia em dois anos. Em contrapartida, apenas 56% dos presos que completaram o curso retornaram à prisão.
Em pesquisa feita pela Universidade de Washington sobre os efeitos da meditação sobre a reabilitação de drogados e criminosos, funcionários da antiga NRF afirmaram que os presos que completaram o curso se tornaram mais calmos e disciplinados. O estudo ainda avaliou que tanto o grupo submetido ao tratamento usual antidrogas como o grupo submetido à meditação junto ao tratamento usual revelaram uma significante redução no consumo de álcool e outros entorpecentes. Mas os participantes do curso de meditação levaram vantagem ao demonstrar maior preocupação sobre quando, onde e como eles consumiam bebidas alcoólicas e ao consumir muito menos maconha, crack e cocaína do que o grupo que apenas passou pelo tratamento usual.
E, finalmente, no Brasil
Por aqui, outros projetos que levam cursos de meditação em penitenciárias colhem bons resultados. Há quatro anos, o CIYMA (Centro Integrado de Yoga, Meditação e Ayurveda) mantém o projeto Yoga e Meditação na Febem no Internato Feminino da Mooca, em São Paulo. Diariamente, um grupo de voluntárias visita a unidade e comprova que a prática meditativa leva à melhora do rendimento escolar das internas e a uma postura mais positiva e esperançosa em relação ao futuro.
O monge Dada Maheshvarananda e alguns voluntários da Ananda Marga – organização sócio-espiritual fundada em 1955, na Índia, estabelecida em mais de 150 países – trabalharam durante dois anos com prisioneiros portadores de AIDS na antiga Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, e outros quatro na penitenciária José Maria Alckmin, em Ribeirão das Neves, Minas Gerais. O papel do monge e dos voluntários era incentivar os presos a usarem seu tempo de pena para sua transformação pessoal, por meio da meditação. Segundo Dada Maheshvarananda, muitos foram sinceros e alguns realmente mudaram.
No sistema prisional do Rio Grande do Norte, a prática de yoga e meditação nos presídios vem sendo desenvolvida no Projeto Mente Livre, coordenado pelo professor José Hermógenes de Andrade Filho, 85 anos, natural de Natal, que há mais de 44 anos mora e ministra aulas de yoga no Rio de Janeiro.
Entre as muitas histórias de transformação espiritual que o professor Hermógenes já colhe com este trabalho, está a de Luiz Henrique Gusson Coelho, um dos detentos da Penitenciária de Parnamirim. A vida antes e depois da meditação de Gusson Coelho, que hoje atua ao lado do professor Hermógenes na coordenação do projeto, inspirou o fotógrafo Marcelo Buainain na produção do documentário Do Lodo ao Lótus – título que faz uma bela alusão à simbologia da flor de lótus, que como os presidiários, encontram sua chance de desabrochar mesmo em águas turvas e lodosas.
Fonte: Triada.com.br