MEDITAÇÃO EM MOVIMENTO
Sentado ou em pé, parado ou andando... É possível acalmar a mente durante as mais variadas atividades. Descubra, a seguir, algumas boas opções de meditação ativa
Texto • Thiago Perin
Fotografando
Belas paisagens têm o poder de trazer inspiração e despertar nossa veia contemplativa. Quem não se anima com a ideia de assistir a um belo pôr-do-sol em uma praia paradisíaca? E mesmo na cidade grande é sempre possível encontrar beleza ao nosso redor, ainda que em pequenos detalhes que, normalmente, passam despercebidos. Pegue a sua câmera fotográfica e aguce sua percepção – está aí uma ótima forma de elevar o pensamento. A arte de meditar fotografando se chama miksang (“olho vivo”, em tibetano), e consiste em fotografar, sem pretensões, qualquer cantinho onde vejamos beleza, seja a maçaneta de uma porta ou uma flor especialmente viva. Isso, é claro, com plena concentração e foco no momento vivido.
Cozinhando
O sucesso de uma boa refeição depende muito da plena atenção de quem a prepara. E fale a verdade: quantas vezes você não cozinha enquanto bate papo, acompanha a TV ou fala ao telefone? "Cozinhar pode ser uma prática tão rica em significados e insights quanto qualquer outra, além de acalmar a mente, como toda meditação que se preza", escreve, no livro Meditando na cozinha: crônicas & receitas, a jornalista paulistana Sonia Hirsch. Segundo ela, para que o pensamento se acalme no momento de cozinhar, o mais importante é fazer tudo silenciosamente. "A leveza ao pousar a tampa no bule ensaia a leveza da vida. Mexer uma panela prestando atenção é igual a desenhar uma mandala, faz efeito no ser inteiro", explica.
Caminhando, correndo, de bicicleta...
Atividades esportivas são ótimas pedidas para a prática do aprimoramento da concentração. Enquanto se dedica a estas atividades, você vive o aqui e agora, presta atenção no modo como respira, nos movimentos que faz, enfim, vive somente o presente, afastando da mente quaisquer pensamentos. Ou seja, está meditando e nem se dá conta disso. O monge budista Thich Nhât Hanh, autor do livro Meditação andando, escreve que o cuidado essencial é observar a respiração e o ritmo das passadas. "Ao caminhar, mantenha um leve sorriso nos lábios e pratique a respiração consciente contando os passos", escreve ele. Nessa dinâmica, uma simples ida à padaria pertinho de casa pode ser uma oportunidade ótima para clarear a mente.
Fazendo artesanato
Criar uma obra de arte, seja essa um vaso esculpido na aula de cerâmica, um quadro despretensioso ou mesmo um cachecol de tricô, feito com todo o carinho, requer plena atenção e concentração. Dando um mergulho em nossa criatividade, aguçamos o lado mais sensível da mente e – surpresa! – atingimos o bem-vindo estado meditativo. Nessa dinâmica concentrada, com foco em cada movimento, é fácil esquecer que o resto do mundo existe e ficar na companhia única do próprio eu interior. E não adianta dizer que não você tem talento para as artes: com um pouco de sensibilidade, qualquer um é capaz de criar e ganhar uma imensa paz interior nesse processo.
Comendo
Se meditar cozinhando é possível, por que não fazê-lo também enquanto se come? Cada alimento tem sabor, aroma, textura e temperatura próprios, e descobri-los aos poucos é um dos maiores prazeres que se pode ter à mesa, além de ser um belo treino da percepção. “A comida não apenas alimenta o corpo e o espírito, mas também os sentidos”, escreve a monja mineira Gyoku En no livro O zen na cozinha. Só não vale comer em frente à televisão, enquanto lê o jornal ou lembrando das pendências do dia seguinte. Segundo Gyoku En, você deve estar atento a cada garfada durante a refeição, saboreando as particularidades de cada alimento, com atenção à mastigação, à respiração e à postura do corpo. Com o tempo, o processo vai se tornando natural, suas refeições ficam mais prazerosas e sua mente vai longe.
Nas tarefas domésticas
O que é meditar, afinal? É concentrar-se no presente e tornar conscientes os gestos automáticos mais banais. Você preparou o jantar e comeu. Acabou a refeição? Medite na pia, ao lavar a louça. Observe o formato, as cores, a textura e o peso do prato. Fique atento ao movimento que você faz ao pegá-lo e sinta a temperatura da água e a textura da esponja e da espuma. Ouça o som da água saindo da torneira e o barulho da própria louça na pia. Mantenha a sintonia também ao enxugar a louça, guardar os pratos, arrumar o guarda-roupa, pentear os cabelos, vestir-se e ao longo do dia todo. Com a prática, a cada dia dá menos trabalho conectar-se ao presente – e os benefícios seguem fluindo.
Fonte: Triada.com.br