HIPNOSE TERAPÊUTICA: COMO FUNCIONA

HIPNOSE TERAPÊUTICA: COMO FUNCIONA

Intrigante e poderosa, a hipnose já fez sucesso como espetáculo. Hoje em dia, é estudada como prática terapêutica e utilizada no tratamento de diversas doenças, físicas, emocionais ou psíquicas

 

Texto • Redação

Mágica, truque, misticismo? Longe disso. Diferentemente do que se possa imaginar, a hipnose não tem nenhuma relação com questões esotéricas ou religiosas. No Brasil, a técnica já é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e vem sendo utilizada como tratamento coadjuvante de várias doenças, principalmente aquelas de fundo emocional, chamadas de psicossomáticas.

É verdade que nem sempre foi assim: durante muito tempo, a hipnose foi utilizada em espetáculos de magia por falsos – e, muitas vezes, irresponsáveis – hipnólogos. Ainda hoje, quem quiser usufruir de seus benefícios precisa ficar atento para escapar dos charlatões e encontrar um profissional realmente capacitado.

E a coisa vem lá de longe. Praticado desde a Antiguidade, o hipnotismo foi a base das ciências ocultas no antigo Egito e na Grécia. Impregnado de magia e misticismo, era usado na cura de doenças e, seus efeitos, considerados verdadeiros milagres.

No entanto, o método só veio a ser investigado de verdade no final do século 18, quando o médico austríaco Franz Mesmer chegou à conclusão de que sua ação estava baseada em um forte magnetismo, que podia ser aplicado de um homem (hipnotizador) a outro (receptor). As conclusões, contudo, não foram aceitas pela comunidade científica, que creditou os efeitos da hipnose somente à imaginação do receptor. 
 

O oposto do sono

O termo hipnose surgiria apenas no século 19, com o médico inglês James Braid. A palavra vem do grego hypnos, como era chamado o deus do sono. Braid descobriria mais tarde o erro que cometera ao escolher esse nome, pois a técnica, na verdade, é o oposto do sono, sendo caracterizada por uma intensa atividade mental. “A hipnose nada mais é do que a comunicação com o inconsciente da mente. É o acesso à parte da mente que não controlamos conscientemente”, afirma o médico psiquiatra e hipnoterapeuta Leonard Verea.

Após os descobrimentos de Braid, a técnica ficou esquecida durante anos, até que, em 1889, com o I Congresso Internacional de Hipnotismo Experimental e Terapêutico, voltou a ser estudada. Nesse congresso, estava o jovem psiquiatra Sigmund Freud. Considerado o pai da psicanálise, ele chegou a utilizar o transe no tratamento de pacientes, mas não se aprofundou na técnica.

No início do século 20, o psiquiatra americano Milton Erickson demonstrou que a hipnose é um fenômeno natural da mente e, desde então, ela vem ganhando espaço cada vez maior como ferramenta de tratamento de diversas doenças e síndromes físicas, emocionais ou psíquicas.
 

Cuidados necessários

A hipnose é uma forma de comunicação em que a base fundamental é a sugestão. Trata-se de um estado de atenção concentrada, quando é possível ao indivíduo reagir aos estímulos do hipnotizador (sugestões) ou aos próprios comandos (autohipnose). “Muitas vezes, somos hipnotizados ou nos autohipnotizamos sem perceber. Ao assistir à televisão ou quando escolhemos uma roupa para causar determinada impressão em uma festa ou evento, por exemplo, estamos com a atenção canalizada para um determinado fim, concentrados, sem perceber o que se passa à volta”, explica Verea.

Mas, para fins terapêuticos, a hipnose deve ser indicada com cuidado e aplicada por um profissional treinado. Se realizada de maneira errada ou em pacientes com predisposição a distúrbios psiquiátricos, pode ser mais prejudicial do que benéfica. “Durante o transe, o impacto das palavras é muito maior no indivíduo do que em seu estado normal e, se o terapeuta não estiver preparado para dizer as palavras certas, o resultado pode ser desastroso. É uma técnica que depende muito da conduta do profissional”, alerta o psicólogo especialista em hipnose Odair José Comin.

Odair sugere que o paciente procure conhecer em que instituição o terapeuta é formado e a quantidade de horas de duração do curso. “A única contra-indicação para a hipnose é o próprio terapeuta: se ele não for competente, comprometerá os resultados do tratamento”, conclui.

 

Viagem no tempo

História Antiga

Há evidências de que civilizações antigas, como a grega e a egípcia, já faziam uso da prática para curar e induzir a estados de relaxamento profundo.
 

1734-1815

Franz Anton Mesmer conseguiu notoriedade na Europa ao produzir curas “magnetizando” seus pacientes por meio da imposição de mãos ou imãs.
 

1766-1819

Abade Faria, padre português, foi o primeiro a explicar o transe como resultado da concentração e não do magnetismo. É atribuída a ele a afirmação: “Parece que os homens podem ser encantados para a doença ou para a saúde”.
 

1795-1860

James Braid, oculista inglês, se deparou acidentalmente com o transe ao pedir que um paciente fixasse o olhar em um ponto durante o exame oftalmológico. Foi o idealizador do termo “hipnose”.
 

Século 19

Liébault e Bernheim, da Escola de Nancy, na França, hipnotizaram milhares de pacientes e desenvolveram técnicas empregadas até nossos dias.
 

1901-1980 

Milton Erickson, médico americano, alcançou resultados excepcionais ao desenvolver técnicas hipnóticas de aplicação clínica para curar doenças físicas e psicológicas.

 Fonte: Triada.com.br