HIPNOSE PARA RELAXAR

HIPNOSE PARA RELAXAR

Esqueça as ordens esdrúxulas e os espetáculos em palcos. A hipnose clínica pode ser um instrumento poderoso para atingir um estado de relaxamento capaz de banir emoções e sensações indesejadas

 

Texto • Paula Bianca de Oliveira

Os olhos acompanham o vai-e-vem do pêndulo, assim, pouco tempo depois, com a visão turva a pessoa, de repente, entra em transe – embora esta cena pareça a descrição básica de uma sessão de hipnose, existem muitas outras formas e métodos capazes de induzir ao transe. Trabalhadas em conjunto ou separadamente, estas técnicas invariavelmente conduzem a um estado de relaxamento.

“Bastante confundido com a hipnose em si, o relaxamento é apenas o primeiro passo da indução”, afirma Bayard. “O relaxamento é um estado de baixa atividade, seja orgânica, seja mental, utilizado para chegar ao transe ou à hipnose. Na hipnose, o corpo também fica relaxado, mas a atividade mental está sempre alta”, diferencia Bayard.

Na hipnose, a indução é compreendida como o processo de levar o paciente de um estado corriqueiro de pensar para um estado incomum. “Muitas vezes, entramos num processo de indução à hipnose sem perceber”, comenta Bayard. “Às vezes, você está tão ansioso por um telefonema importante, que chega a escutar o telefone tocar... mas, na verdade, ele nunca tocou. Isso acontece porque você está pensando de forma intensa, coerente e específica, o que provoca fenômenos ligados à hipnose, como ouvir, sentir e ver coisas que não são reais”, explica.

Decifrando o transe

Com o relaxamento, o paciente fica pronto para receber as orientações do terapeuta, que pode iniciar o que é conhecido como transe. “O corpo e a mente reagem de maneira diferente nesse estado, possibilitando novas sensações e oportunidades de mudanças, o que se dá de forma mais rápida e permanente no comportamento”, afirma Adriana. “O transe é um estado de atenção focalizada. Áreas do cérebro são estimuladas enquanto outras ficam inibidas, gerando esse novo estado de consciência, mais propício a um aprendizado eficaz”, complementa. 

Na hipnose clássica, a mesma forma de indução vale para todas as pessoas: adultos, idosos, crianças, independentemente do objetivo do tratamento. Já a indução moderna, chamada erikssoniana, é adaptada a cada paciente. “Eu não preciso fazer exatamente com o que o paciente passe pelo relaxamento. Se ele já chega na sessão chorando por algum motivo, eu já vou pedir para ele fechar os olhos e lembrar do que aconteceu, da importância desse fato para ele”, explica Bayard. 

Se o terapeuta souber que seu paciente é uma pessoa que gosta de escrever, por exemplo, ele vai pedir que feche seus olhos e imagine-se escrevendo, que é quando o paciente fica mais concentrado. Ou seja, a indução já é iniciada por um elemento que é comum ao paciente. “Ele não precisa se imaginar fazendo coisas que ele nunca fez. Fica muito mais fácil colocar a pessoa em transe fazendo uso da sua realidade individual”, acredita Bayard.

Aliados do hipnoterapeuta

“O pêndulo, a música, as palavras, os sons, a própria história pessoal ou de outras pessoas, entre tantas outras possibilidades, são boas maneiras de absorver a atenção do paciente”, fala Adriana de Araújo, psicóloga e hipnóloga, “pois, ajudam o paciente a ‘desligar’ de outras coisas e até mesmo de pensamentos por um tempo”, acrescenta.

Para saber qual melhor meio de indução e qual deverá ser usado com cada paciente é preciso um mapeamento adequado de cada pessoa. “Aquilo que for escolhido deve ter uma forte relação com o momento e principalmente com as memórias passadas daquele paciente. A forma de indução deve fazer parte de um contexto dentro da realidade individual de cada paciente, ou seja, da sua interpretação do mundo a sua volta”, define Adriana.

Outro aspecto importante para facilitar a indução à hipnose é o local onde a sessão está sendo realizada. “Deve ser um lugar que não vá atrapalhar na concentração do paciente”, orienta Bayard V. Galvão, psicólogo, hipnoterapeuta e presidente do Instituto Milton Erickson. É preciso estar em um ambiente com pouco barulho e relativamente confortável, para que o paciente concentre-se no barulho da respiração e naquilo que o terapeuta está falando. “Relaxado e pensando de acordo com o que o terapeuta está falando, o paciente fica mais receptivo à terapia e às palavras de ajuda que o hipnólogo pronuncia”, diz Bayard. A partir daí, paciente e terapeuta podem juntos trilhar os caminhos da mente em busca das soluções de problemas e aflições. Em poucas palavras: relaxe e aproveite.  
 

Ferramentas da hipnose

Existem inúmeras possibilidades de induzir o paciente à hipnose por meio do relaxamento. Veja algumas delas:

1. Respiração: o inspirar e o expirar profundos aliados à descontração muscular são caminhos certos para relaxar que yogues e zen budistas há séculos propagam;

2. Frases repetitivas: exigem pouco ou quase nada de atividade psíquica, o que leva o paciente a “esvaziar” a mente (técnica comum de meditação, chamada por alguns de “mantra”);

3. Tom e volume da voz do terapeuta: neste caso o discurso não deve ser monótono, mas sim carregar o tipo de postura que o terapeuta quer que o paciente incorpore;

4. Vencendo pelo cansaço:

- Pêndulo: a fixação do olhar leva o paciente a concentrar o pensamento somente nesse balanço;

- Fixação do olhar em um ponto fixo: sem poder piscar, o paciente se vê cansado rapidamente;

- Pestanejamento sincrônico: o paciente pode piscar somente em determinados períodos de tempo;

- Supraversão do olhar: os olhos sobem, ficando escondidos atrás das pálpebras;

- Palavras repetitivas: além de provocarem o cansaço, elas relaxam quem as ouve;

- Contração seguida de relaxamento dos músculos: provocam o cansaço físico.

Fonte: Triada.com.br