CONHEÇA SUA VOZ (E CUIDE BEM DELA!)

CONHEÇA SUA VOZ (E CUIDE BEM DELA!)

Única como as impressões digitais, a voz é uma das extensões mais fortes da personalidade. Além da linguagem verbal, o timbre, o ritmo e a intensidade da voz dizem muito sobre o estado emocional e aspectos físicos, sociais e culturais

 

Texto • Lívia Filadelfo
 

No consultório, Régis Farah conversa com os pacientes em tom de voz baixo, de forma pausada e clara. Ele tenta passar, pela voz, tranquilidade e segurança para aqueles que têm medo da cadeira do dentista. A fala calma, que sempre ajudou Régis na relação com os pacientes, contudo, virou um problema nos palcos. “Quando comecei a estudar teatro, percebi que não conseguia desvencilhar-me desse tom de voz”. Foi, então, que ele iniciou o trabalho de preparação vocal.

Por meio de exercícios e da terapia fonoaudiológica, é possível aprender a usar os mecanismos respiratórios, pregas vocais e cavidades de ressonância de forma adequada e agradável aos ouvintes. “Não existe um modelo de voz ideal. O que buscamos na terapia é, a partir da queixa do paciente, ajudá-lo a criar um movimento vocal coerente com a personalidade e características físicas e socioculturais”, explica a fonoaudióloga Renata Ferrari.

A voz é um elemento de identificação pessoal composta não apenas por fatores biológicos e genéticos, mas pelo estado emocional, personalidade, temperamento, caráter e história de vida. “No trabalho terapêutico, aproximadamente 90% dos casos são queixas de incoerência entre a voz e o corpo ou posição social. Por exemplo, o sujeito é um grande empresário, mas tem uma voz infantilizada. Ele quer uma voz mais impositiva, que expresse autoridade. Com o trabalho fonoaudiólogo, isso é possível”.

 

Caminho da voz

A voz é produzida na expiração. O ar inspirado vai do nariz até os pulmões, abaixando o diafragma. O diafragma impulsiona o ar para a laringe, fazendo as pregas vocais vibrarem. As ondas sonoras produzidas pelas pregas vocais são projetadas para fora pela boca, articuladas pela língua e lábios. A intensidade da voz é controlada pela respiração. Um sussurro requer pouco ar, enquanto que, para uma voz forte, é preciso muito mais ar.

A altura da voz é determinada pela espessura, tamanho e tensão das pregas vocais. Pregas vocais grandes e relaxadas produzem sons agudos. Pregas vocais estreitas e tensas produzem sons graves. No momento da fala, as pregas vocais mudam constantemente de tamanho. Os músculos da laringe e as pregas vocais, que são um par de músculos, contraem-se ou relaxam naturalmente para modular a altura dos sons vocais.

Se o mecanismo de produção da voz é o mesmo, por que as pessoas têm vozes diferentes? Ao percorrer as cavidades de ressonância (garganta, boca e nariz), que são diferentes em cada indivíduo, o som adquire características peculiares. Além dos aspectos físicos e genéticos, fatores ambientais, como a convivência com outras pessoas e o tipo de educação, contribuem para a formação da identidade vocal. Por isso, é comum encontrar vozes parecidas entre os membros da mesma família.

 

Por trás da voz

O conjunto de características que identificam a voz humana é chamado qualidade vocal. No chamado "âmbito socioeducacional", são considerados o sotaque, regionalismos e uso de modelos vocais que identificam grupos ou profissões. “São comuns casos de pacientes que querem perder o sotaque por motivos diversos. Mas, em geral, durante o tratamento terapêutico, ele descobre que o sotaque o identifica dentro de um determinado grupo do qual ele faz parte, principalmente, a família. Então, ele percebe que não quer perder o sotaque”, conta Renata, que é especialista em preparação de atores e professora da Escola de Atores do TUCA, teatro da PUC-SP.

 

Em geral, a voz revela o estado emocional de quem fala. Mas, certamente, isso não pode ocorrer em todas as situações. A atuação cênica é uma delas. A cada personagem, o ator tem de conferir características específicas para a voz e o modo de falar. Além disso, essa fala deve mascarar a ansiedade ou nervosismo do ator diante do público. Isso requer treino e observação da própria voz. “Aprendi a lidar com a minha voz, dar a projeção necessária para a atuação no teatro e usar um tom intimista e natural nas gravações em vídeo”, conta Régis Farah, dentista e ator, lembrando que o trabalho deve ser constante. “Faço os treinos e aquecimentos vocais até no trânsito. Pareço um maluco fazendo caretas dentro do carro”, brinca.

 

 

Para uma voz aquecida

O aquecimento vocal consiste em exercícios para estimular o diafragma e aumentar a capacidade fonatória. Tanto a terapia fonoaudiológica quanto a preparação vocal devem ser acompanhadas por um profissional especializado. Abaixo, conheça alguns exercícios introdutórios de aquecimento vocal.
 

Alongamento e relaxamento

Comece alongando e soltando os músculos da região cervical, ombros, costas e cabeça. Esse exercício ajuda a relaxar as articulações e faz com que o som da voz saia sem tensões.
 

Soltando o ar

Inspire e solte o ar de forma ritmada em som de /s/ (som da cobra). Comece soltando em dois tempos: /s/, /s/. Inspire novamente e solte o ar em três tempos: /s/, /s/, /s/. Repita o exercício até cinco tempos de /s/.
 

Vibração labial

Encha os pulmões de ar. Expire vibrando os lábios, reproduzindo o som de motor de carro. Inspire e repita o exercício.
 

Articulação

Para trabalhar o ponto articulatório (língua), inspire e solte o ar produzindo o som tsc, tsc, tsc com a ponta da língua. Inspire novamente e expire vibrando a língua com o som cló, cló, cló (semelhante ao andar do cavalo). Por último, com os lábios, faça o som de beijos curtos e estalados seguidas vezes. Esses exercícios ajudam a dar mais precisão articulatória à fala.
 

Alongando a laringe

Com a boca fechada, encoste a ponta da língua na bochecha e faça movimentos circulatórios passando a língua pela boca repetidas vezes.
 

Ressonância

Com a boca fechada, reproduza o som hum, hum, hum, longamente. O exercício trabalha a ressonância vocal e ajuda a melhorar a amplificação o som voz no espaço.
 

Fonte: Triada.com.br