MEDITAÇÃO ATÉ NO TRABALHO

MEDITAÇÃO ATÉ NO TRABALHO

Uma das mais técnicas de meditação mais praticadas, a transcendental se revela também uma excelente alternativa para aumentar o bem-estar no ambiente de trabalho e fazer crescer a produtividade das empresas. Vale a pena conferir

 

Texto • Daniel John Furuno


 

Foram-se os tempos em que, no mundo dos negócios, a principal exigência era o cumprimento de metas e prazos. Cada vez mais, em qualquer ramo de atividade, a palavra de ordem é superação: de faturamento, de produtividade, de expectativas. Com isso, a pressão, que existe rigorosamente em todos os níveis hierárquicos de qualquer empresa, só faz crescer. E os índices de distúrbios de saúde advindos do estresse no trabalho, como crises nervosas, insônia, problemas cardíacos e gástricos, só para citar alguns exemplos, têm acompanhado esse crescimento.

Paralelamente, de uns anos para cá, a preocupação com a qualidade de vida vem ganhando cada vez mais espaço. A manutenção de uma alimentação saudável, por meio de uma dieta balanceada, e da boa forma física, através de uma rotina de exercícios regulares, vem ganhando cada vez mais adeptos e defensores. Atentas a estas novas tendências e necessidades, muitas companhias têm adotado programas que visam promover o bem-estar de seus funcionários, investindo principalmente em atividades físicas, culturais e recreativas. Como resultado, as empresas vêm comemorando o melhor rendimento de seus empregados, fruto de um ambiente profissional livre de tensão excessiva.

Num primeiro momento, a meditação transcendental – ou, pelo menos, a ideia que geralmente fazemos dela: a de um “bicho-grilo” sentado em posição de lótus, entoando um mantra de sons estranhos, rodeado por uma nuvem de incenso – parece não combinar com os corredores austeros de uma empresa capitalista. Ledo engano. Um grande número de executivos de grandes companhias ao redor do mundo vem usando a MT, como é conhecida, como antídoto contra o estresse no trabalho. Algumas dessas empresas até têm adotado oficialmente programas de incentivo à prática. No Brasil, essa tendência ainda aparece de maneira tímida, mas aos poucos vai ganhando seguidores.

 

 

 


 
 

Mas, afinal, o que é MT?

A meditação transcendental foi introduzida pelo indiano Maharishi Mahesh Yogi, no final da década de 1950. Acredita-se que seja baseada em antigas tradições védicas. “Não há um consenso com relação à idade dessas tradições. Alguns estudiosos dizem que elas surgiram há cerca de cinco mil anos; outros falam em mais de dez mil anos”, aponta Paulo Morgante, que há doze anos dá aulas de MT. Com o passar do tempo, a técnica proposta pelo Maharishi foi se popularizando, arrebanhando até discípulos famosos, como os Beatles, que, a partir de 1968, participaram de alguns retiros em Rishikesh, na Índia, para aprender mais sobre a meditação transcendental com seu próprio criador.

“Podemos definir resumidamente a MT como sendo uma técnica que leva a nossa percepção, a nossa mente consciente, a experimentar estados mais aquietados do pensamento, até chegar a um estado que transcende todos os outros, no qual experimentamos um silêncio mental muito grande. E então, em contraparte, temos reflexos na nossa energia, no nosso estado emocional, no nosso comportamento e até no modo como nos relacionamos com o ambiente à nossa volta”, explica Paulo.

A técnica, que deve ser repetida diariamente, duas vezes por dia, em sessões com duração de cerca de vinte minutos cada, envolve a recitação mental de um mantra. “Logo na aula inicial, no entanto, já explicamos a função do mantra na meditação transcendental, que é diferente da utilização em outras técnicas de meditação. Existe uma sutileza na técnica da MT que faz com que facilmente, sem esforço algum, alcancemos os estados mais refinados da mente”, esclarece Paulo.

Sua esposa, Cynthia Gerling, também professora de meditação, acrescenta: “Geralmente, as pessoas imaginam que vão ter que se concentrar, visualizar alguma coisa ou se programar mentalmente. Na verdade, a MT não demanda nenhum esforço, tampouco requer que o meditante emita um som ou adote uma postura estranha. Pode ser feita em qualquer lugar, bastando para isso que a pessoa feche os olhos. Existem mais de 600 estudos científicos comprovando seus benefícios, e esse suporte científico atrai os mais céticos e racionais. Finalmente, apesar da origem indiana, a MT não está vinculada a uma religião ou estilo de vida. Ou seja, pode realmente ser praticada por qualquer pessoa”.

 

 
 

MT no trabalho

Cynthia e Paulo ministram os cursos de meditação transcendental em sua própria casa, no bairro do Morumbi, na cidade de São Paulo. Atendem alunos de perfil bastante variado: desde crianças a partir dos quatro anos até gente da terceira idade, passando por adolescentes, pais e mães. Cada vez mais, o casal também tem dado aulas para empresários, executivos de diferentes escalões e profissionais diversos, especialmente dos ramos bancário e de informática. “O objetivo da meditação não é ‘ficar zen’, sem fazer nada. É trazer a mente a um estado em que o pensamento é mais claro, para que você possa aplicar isso à sua vida, o que inclui melhorar seu desempenho nas atividades profissionais, graças a uma percepção ampliada e um discernimento aguçado”, afirma Paulo.

“Contrariando a ideia de que a meditação leva à calma excessiva e à apatia, muitos dos nossos alunos têm relatado aumento na produtividade em seus negócios. Isso porque a calma interior proveniente da MT faz com que a pessoa seja mais criativa, mais objetiva, esteja mais pronta e presente no dia a dia. Faz com que ela durma melhor, tenha menos ansiedade e torne-se, com isso, mais organizada, estruturando seu dia de forma mais linear, mais fluida, sem tanto alvoroço mental e físico”, completa Cynthia.

Há exemplos que comprovam o que dizem os dois professores. Com um programa de meditação transcendental para funcionários implementado em 2003, a FQM/Farmoquímica, localizada no Rio de Janeiro, vem registrando resultados extremamente positivos. “Temos tido mais harmonia no grupo, menor grau de estresse individual, aumento da satisfação no trabalho e, conseqüentemente, aumento da produtividade. O resultado prático é que crescemos 130% nos últimos quatro anos e há três anos figuramos na lista das melhores empresas para se trabalhar, elaborada pelo jornal Valor Econômico”, comemora Marcelo Giraldi, presidente da Farmoquímica.

O presidente, aliás, é o maior entusiasta do programa dentro da companhia, já que ele próprio é um praticante. “Entrei em contato com a técnica através da indicação de um amigo e há quinze anos a pratico. São muitos os efeitos da MT e hoje sinto que estão incorporados à minha vida. De maneira geral, sinto-me bem-disposto, livre do estresse do dia a dia, feliz no trabalho e na vida pessoal. Sinto-me consciente em relação às minhas decisões e gozo de excelente saúde”, relata o executivo.

A idéia de criar o programa não é recente. “Há muito tempo já pensava que os benefícios da MT poderiam ser transportados para o ambiente empresarial de uma forma sistemática. O diretor da Academia Internacional de Meditação do Rio de Janeiro, Kleber Tani, foi o instrutor do grupo e segue conosco em encontros mensais para acompanhamento. Foi feito um trabalho de divulgação junto aos funcionários, no sentido de esclarecer no que consiste a técnica e saber quem realmente estaria interessado em participar das aulas. A reação foi muito positiva desde o início. Hoje, temos 55 pessoas que praticam a MT dentro da empresa. O grupo era inicialmente composto pelos gerentes; posteriormente, estendemos o programa aos supervisores e atualmente os analistas também participam”, explica o presidente.

Quem medita, recomenda

Alexandre Azevedo, supervisor de produção da Farmoquímica, é um dos funcionários participantes do programa de meditação transcendental na companhia. “Trata-se, realmente, de uma proposta bastante diferente do que se costuma ver por aí, em outras empresas. Mas eu, que nunca tinha tido nenhum contato com meditação antes, já comecei a ter uma percepção diferente logo depois das primeiras sessões”, conta.

Para ele, os benefícios trazidos pela prática dentro do ambiente de trabalho são enormes. “O primeiro ponto, na verdade, não diz respeito à meditação em si: só o fato de sair da sua mesa e encontrar com as outras pessoas já ajuda a melhorar o ambiente. Com relação à MT propriamente dita, ganhei muito mais tranquilidade na tomada de decisões; agora sempre reflito duas vezes. Outros benefícios que surgiram foram inesperados para mim. Por exemplo, notei uma redução na quantidade de comida necessária para me saciar. Da mesma forma, passei a precisar de menos horas de sono para me sentir totalmente repousado; dormir cinco horas e meia já é suficiente para mim hoje em dia”, enumera.

Outra consequência inesperada é que Alexandre tornou-se um meditante convicto. “Como toda atividade que mostra resultados, passei a me interessar mais. Minha frequência nas sessões aumentou, estou mais preocupado em não perder nenhuma. São vinte minutos que gasto agora, mas que certamente ganho mais adiante. Se estou no meio de uma tarefa importante, meu primeiro impulso é pensar: ‘Poxa, vou parar o que estou fazendo para meditar?’. Depois, reflito melhor e vou, pois sei que a MT pode me ajudar na própria tarefa. Muitas vezes, já tive uma idéia ou encontrei uma solução para algum problema durante ou logo após a meditação, pois é um momento em que você interrompe aquele clima de tensão e libera a sua mente para criar”, relata. Como se vê, não só os funcionários, mas as empresas tem mesmo muito o que comemorar com a adoção desta prática de bem-estar. 

Fonte: Triada.com.br