PLANTE SEU JARDIM E GANHE PAZ

PLANTE SEU JARDIM E GANHE PAZ

Saiba como encontrar a paz interior com uma prática muito simples e barata: a jardinagem. Descubra você também como é possível relaxar e meditar com as mãos na terra

 

Texto • Lívia Filadelfo

“Um jardim é um sonho que virou realidade. (...) É nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora”. E foi assim, como descreve o escritor Rubem Alves, que os jardins de Marizilda Conte, de 55 anos, começaram. No início, trabalhar com jardinagem era apenas um desejo, um sonho.

Formada em administração de empresas e comércio exterior, ela trabalhava há dez anos em uma empresa de cartões de crédito quando decidiu se dedicar exclusivamente ao paisagismo. “Eu tinha sucesso profissional, mas me sentia sufocada pela rotina e pelo estresse do trabalho na empresa”. Quando sentiu que tinha chegado ao limite, Marizilda deixou o emprego e foi trabalhar, de graça, em uma floricultura. “Ofereci-me como voluntária na floricultura para poder aprender a mexer com plantas. Simultaneamente, fui fazendo cursos e me capacitando”. Hoje, ela trabalha como paisagista autônoma. “Me sinto livre. Ser dona da minha rotina e estar próxima da natureza me faz muito bem”.

Todo esse bem-estar conquistado por meio do contato com as plantas, Marizilda divide com crianças e adolescentes carentes da periferia de São Paulo. Ela é voluntária no Projeto Aquarela, que atende às comunidades do Parque São Domingos, Vila Brasilândia e Jaguaré. Além disso, trabalha como instrutora de jardinagem em uma escola particular de São Paulo, que atende pessoas com síndrome de down. “O contato com a natureza trouxe mais equilíbrio e paz para meu filho”, conta Márcia Iclea Bagnatori. Há um ano, seu filho, Fabrízzio De Francesco, 38 anos, é aluno de Marizilda nas atividades de jardinagem. “Existe um consenso de que o portador de síndrome de down tem de ser útil à sociedade no sentido material. Não gosto disso. Pelo contato com a natureza, o Fabrízzio, mais do que ser produtivo, percebe que faz algo positivo e isso traz bem-estar para ele e para todos ao seu redor”. Além disso, para Márcia, o acompanhamento do processo do plantio à colheita é um aprendizado, uma demonstração de crescimento com equilíbrio e sem ansiedade. “Essa interação com a natureza é muito benéfica, para qualquer um”, avalia.
 

Jardineiros atentos

Focar a atenção no momento presente sem preocupar-se com o passado ou com o futuro. Uma tarefa simples? Então, tente controlar seus pensamentos por...  cinco minutos! Difícil? Para quem sofre de transtornos ligados à ansiedade e ao estresse, é uma tarefa quase impossível.

Pensando nessas pessoas, a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, em parceria com a Associação dos Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos de Ansiedade (Aporta), criou o Projeto Jardim Terapêutico com atividades de jardinagem, horticultura e meditação para aliviar os sintomas desse distúrbio.

“A ideia é criar um momento de relação com a natureza, de interação, em que a mente esteja presente e atenta, voltada apenas para a atividade executada. Trata-se de uma técnica de meditação muito simples e eficaz”, relata o agrônomo José Fernando da Rosa Vargas, coordenador do projeto. Os participantes aprendem técnicas de jardinagem e meditação e, no final da oficina, levam as mudas que plantaram para casa. “Os resultados são muito positivos. As pessoas relatam a melhora do estresse e continuam as atividades em casa”.

 

 

 

Abraçando a natureza

Quem nunca foi a um parque e se deparou com alguém abraçando uma árvore? Parece coisa de maluco, mas não é. Em algumas filosofias orientais, abraçar uma árvore é um ato que proporciona o equilíbrio das energias e traz a paz interior. “Ao longo do dia, o corpo vai acumulando energia. Energia, não no sentido holístico, mas de eletricidade mesmo, e essa energia acumulada contribui para o estresse. Assim, o contato com uma árvore ou com a terra, ou o simples fato de andar descalço na grama, é uma forma de liberar energia e, consequentemente, aliviar o estresse”, explica o biólogo Lito Fernandes.

E é essa intenção de Lito nas oficinas de jardinagem que ministra no Spa Iguaratá, no interior paulista. Nelas, ele dá orientações para a produção de mudas feitas em estufas e para a criação de jardins e hortas.”É uma forma de as pessoas quebrarem a rotina e relaxarem, além de ser um excelente exercício de meditação”, conta. Os participantes montam vasos e floreiras de aromas e temperos. “Costumo usar com os alunos plantas como o alecrim, a cebolinha, ervas e chás, que são resistentes, fáceis de cuidar e podem ser usadas na hora de cozinhar. Isso estimula os alunos a continuarem o cultivo em casa”.

Segundo ele, não existe segredo para manter uma floreira com ervas ou plantas ornamentais e até mesmo uma pequena horta. “O processo é simples e bastam apenas 20 minutos de dedicação diária. O retorno em bem-estar é enorme”, garante.

Se você ficou interessado, aproveite a dica do biólogo e monte uma horta para consumo próprio, é muito fácil. “O segredo é usar hortaliças de crescimento rápido, pois se a horta demora muito a dar resultado, a pessoa desanima”. Então, anote aí: a rúcula e o rabanete são ótimas opções para começar, pois em 30 dias já estão prontas para serem consumidas. O tomate exige um pouco mais de cuidado e paciência, são dois meses de cultivo, mas, segundo Lito, vale a pena esperar!

 

Jardineiro oriental

Conheça os segredos de duas milenares técnicas de cultivo e escolha a que mais combina com seu ritmo e personalidade.
 

Bonsai

Ao pé da letra, a palavra bonsai significa “cultivado em uma bandeja”. Na prática, trata-se da arte milenar de produzir árvores em miniatura, surgida na China por volta do século 8 e bastante difundida no Japão a partir do século 11. No princípio, os bonsais eram feitos apenas com mudas de Pinheiro Negro e Junípero Chinês, que até hoje são conhecidas como os “bonsais originais”. Atualmente, é possível fazer miniaturas de qualquer árvore. O segredo é ter paciência para cultivá-las.

Como fazer: o primeiro passo para cultivar um bonsai é selecionar e preparar as mudas. Depois, é preciso retirar os galhos em excesso e atar a planta com arames, para definir o formato de seu tronco. Em seguida, a muda deve ser transplantada para um jarro, onde ficará por, no mínimo, quatro meses. Nesse momento a paciência começa a ser exigida. O arame nunca deve ser tirado antes da hora, senão a planta não ficará na posição desejada. Controle a ansiedade e aguarde. Até a muda se transformar em um bonsai pronto, pode levar anos. Um passo a passo detalhado de como montar e cultivar um bonsai você encontra no endereço www.bonsaibrasil.com.br.
 

Ikebana

Tatehana, rikka ou ikebana. O nome pode variar, mas a técnica é uma só, conhecida como a arte japonesa de arranjar flores, ramos e galhos naturais. Trata-se de uma atividade praticada em conjunto com a Cerimônia do Chá ao longo dos séculos e que tem, como objetivo final, levar o praticante à harmonia interior. Na filosofia oriental, a ikebana não é apenas uma técnica para compor arranjos de flores, mas sim um exercício de meditação, desenvolvimento da sensibilidade e, ainda, elevação da espiritualidade.

Como fazer: comece prestando atenção ao tamanho dos galhos e caules e cortando o que não é necessário. Nas ikebanas tradicionais, as folhas com pequenas imperfeições não são retiradas, mesmo aquelas com marcas de mordidas de formigas ou vestígios de insetos – no Japão, os arranjos devem acompanhar o ritmo da vida e essas imperfeições, afinal, fazem parte dela. Para praticar a ikebana tradicional, também é importante prestar atenção nas cores das pétalas, pois cada uma delas tem um significado. Tons alaranjados, amarelos e verdes devem ser utilizados em arranjos para presentear quem passa por algum momento de recuperação da saúde. Pétalas brancas trazem a mensagem de paz. O vermelho simboliza a alegria, e o rosa, a delicadeza. Já o lilás e o roxo traduzem saúde espiritual. Outro ponto: na ikebana, todo tipo de galhos, folhas e flores é permitido. Até mesmo aqueles galhos que, aparentemente, teriam como caminho final a lata do lixo. Colocado da maneira correta, ele volta a ganhar vida. De galhos a capim é possível fazer as mais variadas combinações, desde que não se exagere na quantidade – na ikebana, o que vale é “quanto menos, melhor”. O mais importante é a durabilidade das flores. Antúrios, crisântemos, cravos, girassóis e orquídeas costumam se manter vivas por mais tempo.
 

Fonte: Triada.com.br