DÊ UM FIM DEFINITIVO NA ANSIEDADE

DÊ UM FIM DEFINITIVO NA ANSIEDADE

Às vezes ela chega tão forte que a barriga até dói. No passado, já foi considerada frescura de gente rica, hoje é reconhecida como um distúrbio de saúde. Não há dúvidas de que a ansiedade atrapalha a vida de suas vítimas. Então, que tal começar a combatê-la?

 

Texto • Denise Moraes
 

Renata costumava justificar seu jeito afobado e impulsivo dizendo que era uma típica ariana. Quando brigava com o namorado, ligava às cinco da manhã para a casa do rapaz: ou resolvia o problema ou terminava – mas tinha de ser na hora. Caso contrário, ela não conseguiria dormir nem trabalhar direito no dia seguinte. A verdade é que aquilo que para ela não passava de temperamento forte ou característica do signo  nada mais era do que um intenso sintoma de ansiedade.

Nem sempre a ansiedade é algo ruim. Quando o indivíduo se sente ameaçado, é natural que seu corpo entre em alerta e reaja com maior esforço e atenção. É como se, automaticamente, ele se adaptasse a uma situação de perigo. O coração acelera, a respiração fica rápida e curta, os músculos se enrijecem, as mãos e os pés suam, o estômago revira.

Em casos normais, esses sintomas não acontecem todos juntos nem são intensos o suficiente para atrapalhar a vida da pessoa. Nas situações patológicas, porém, a ansiedade vira um problema – e dos grandes. Aí, não importa se a pessoa está pendurada no topo de um precipício ou tomando café na casa de um amigo, ela está sempre a ponto de explodir.

“A ansiedade é considerada positiva quando leva à ação adequada, como estudar para uma prova ou preparar-se com antecedência para uma palestra”, explica o psicólogo Marco Antônio de Tommaso, da Universidade de São Paulo (USP). “É negativa quando leva ao desespero, quando limita a vida da pessoa, influenciando seus atos e até seu estilo de vida”, completa Tommaso, que já atuou no Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas, em São Paulo e, atualmente, atende as agências de modelos L’Equipe e Elite, também na capital paulista.

“Se não for tratado, esse distúrbio pode ser o estopim de uma gama de quadros graves que vão do abandono escolar ou do emprego até o uso de drogas, alcoolismo, obesidade via compulsão alimentar, anorexia nervosa e bulimia, transtornos sexuais, somatizações diversas, além de problemas de ordem social, como dissolução familiar”, adverte Tommaso.
 

Reconhecendo o inimigo

Há dois tipos de ansiedade: uma de característica individual e outra que depende da situação que a pessoa está vivendo, ou seja, se você sua frio falando em público para 300 pessoas, não há nada de anormal com você. Entretanto, se você vai discursar para as tais 300 pessoas daqui a um mês e já está passando mal de nervoso com a ideia hoje, você é ansiosa – e, sob situações tensas, vira uma pilha.

Veja outras atitudes de um típico ansioso: evitar as tarefas que o desestabilizam (por exemplo, falar em público) e ter medos desproporcionais  em relação à situação (como ter certeza plena e absoluta de que o avião vai cair, mesmo quando o vôo não passou sequer por uma turbulência).

 

Yoga em laboratório

Ser ansioso não é sinal de fraqueza ou descontrole, por isso se você é, não precisa negar, muito menos esconder. O distúrbio é mais comum do que se imagina e possui tratamento. Dependendo do seu tipo de ansiedade (viu o quadro na página anterior?), você pode controlá-la ou reduzi-la por meio de remédios, terapia, exercícios e até... yoga. Afinal, quantos yogues nervosos você já viu?

É claro que a prática não garante tranquilidade eterna, mas é fato que os asanas (posturas corporais) e pranayamas (exercícios respiratórios) atendem em cheio a expectativas de autocontrole do corpo e da mente. Controlando seus pensamentos, você  controla os medos, fundados e infundados e, adivinhe, reduz a ansiedade. 
O mais interessante é que essa simples lógica acaba de ser comprovada por um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Elisa Harumi Kozasa, doutora em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da universidade, é uma das responsáveis pelo estudo. Ela trabalhou com voluntários ansiosos, utilizando a prática do Siddha Samadhi Yoga, uma vertente bastante popular na Índia, nos Estados Unidos e no Canadá.

O estudo consistiu em dividir os voluntários em quatro grupos: o primeiro realizou apenas pranayamas; o segundo, meditação; o terceiro, ambos (o Siddha Samadhi Yoga completo); e o quarto, conhecido como grupo controle, não recebeu tratamento nenhum.

“No início, os voluntários diziam se sentir estressados, alguns sofriam de insônia, e outros apresentavam sintomas de depressão”, diz a especialista. Após três meses, os voluntários tiveram seus níveis de ansiedade medidos novamente, e os resultados foram animadores.

Até mesmo os cientistas se surpreenderam com a eficácia do tratamento.“Médicos já vinham recomendando a técnica baseados na observação dos resultados relatados por seus pacientes, mas era necessária uma comprovação”, diz Elisa.

O melhor de tudo é que o poder curativo do yoga não se restringe à modalidade escolhida pelos estudiosos. Qualquer vertente pode oferecer bons resultados no alívio da ansiedade. “Exercícios físicos, de um modo geral, são recomendados porque promovem a ‘queima’ de alguns subprodutos da ansiedade, como a adrenalina e o cortisol, e produzem endorfinas que geram bem-estar”, explica o psicólogo Tommaso.

Ah, a moça do início da matéria hoje está bem melhor. Praticante de yoga há quatro anos, ela aprendeu a fazer o que chama de “jogo da paciência”. Quando algo a irrita, ela  deixa a discussão para o dia seguinte. Assim, pode argumentar com mais coerência e menos emoção.

 

 

O que os números dizem

Doenças relacionadas à ansiedade atingem cerca de 19 MILHÕES DE ADULTOS norte-americanos com idade entre 18 e 54 anos (13,3% da população).
 

De acordo com um estudo feito pela Anxiety Disorders Association of America (ADAA), associação norte-americana sobre distúrbios causados pela ansiedade, os males causados pelo problema custam aos Estados Unidos mais de 42 BILHÕES DE DÓLARES por ano, ou seja, quase um terço do valor destinado ao governo para a área de saúde mental.
 

Pessoas ansiosas são de TRÊS A CINCO VEZES mais propensas a irem ao médico e SEIS VEZES mais propensas a serem hospitalizadas por problemas psiquiátricos que as não-ansiosas.

 

Você é uma das vítimas?

A seguir, o psicólogo Marco Antônio de Tommaso relaciona os principais sintomas da ansiedade, subdividindo-os em psicológicos, físicos e de tensão muscular. Confira!

Sintomas psicológicos: hipervigilância (exagero na resposta de alerta), apreensão em relação a catástrofes futuras, sensação de estar sempre exposta a um perigo, dificuldade de se concentrar ou de “zerar” a mente de preocupações, dificuldade para conciliar ou manter o sono, irritabilidade.
 

Sintomas físicos: falta de ar (sensação de sufocação), palpitações, sudorese em extremidades (especialmente mãos fria e úmida), tonturas ou vertigens (referidas como sensação de pouca firmeza ou instabilidade), boca seca, sensação de “nó na garganta” (dificuldade para engolir), náuseas (enjôos, diarréias ou outras manifestações gastrointestinais), sensação de calor ou presença de calafrios, micção constante.
 

Sintomas de tensão muscular: agitação e inquietação psicomotora (incapacidade de relaxar o corpo), tremores e contrações das musculaturas por tensão crônica de diversos grupos musculares (especialmente a nuca, o pescoço e a mandíbula), fadiga excessiva.